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Comment parler sur le silence ?
Jonatan Agra, 2018


[FR]        Objet d’intenses conflits de mémoire au sein de la société belge contemporaine, la colonisation du Congo et le subséquent récit héroïque construit autour de l'image de Léopold II sont aujourd'hui remis en question par de nouveaux acteurs sociaux qui réclament l'écriture d'une nouvelle histoire et l'affirmation d'autres "mémoires coloniales”. Dans cette perspective, Daniel Cabral, jeune artiste brésilien basé à Bruxelles il y a trois ans, venant également d'un pays colonisé par les Européens pendant un peu plus de trois siècles – parmi eux les Hollandais en ce qui concerne le lieu de naissance de l'artiste, Recife ou « Mauritstad », comme cela a été rebaptisée à l’époque – entreprend depuis deux ans une recherche esthético-politique de dévoilement de l'espace public bruxellois.
            PATRIA MEMOR est le résultat plastique-visuel de cette recherche, et doit même son titre en latin à l'inscription sous la statue équestre de Léopold II à la place du Trône. Comment parler sur l’effacement et le silence? Peut-être pouvons-nous diviser PATRIA MEMOR en deux noyaux significatifs complémentaires: l'espace urbain et ses narrations, l'espace symbolique et ses narrations.
            La réappropriation cartographique de la ville de Bruxelles, redessinée sous le regard de l'artiste, nous contraint à un tourisme gênant : le tissu urbain est mis en second plan, faisant émerger du silence quotidien les constructions de teneur colonialiste existantes à Bruxelles. Divisées par couleur, sur une carte au centre de l'exposition, nous avons celles réalisées par Léopold II lui-même pendant la période de l'État libre du Congo sous sa tutelle (rouge), celles faites après l'annexion officielle du Congo par la Belgique en tant que colonie (jaune) et, enfin, celles effectuées par l'Etat belge à l’honneur de Léopold II comme un héros patriotique (bleu).
            Un regard optimiste sur la conscience collective belge actuelle est également remis en question par la présence de guides touristiques et de livres scolaires de différentes années sur l'histoire de la Belgique, ainsi que sur la position de Bruxelles en tant que capitale de l'Union Européenne. Ces ouvrages, disponibles pour libre consultation au public à côté de classiques tels que Tintin au Congo, daté de 1931, nous invitent à réfléchir sur la perpétuation d'un récit nostalgique, glorifiant et idéalisant du passé colonial belge, incarné et sous-jacent à l'espace public de Bruxelles, archétype d'une Europe contemporaine qui refuse de raconter ses propres villes à partir d'une perspective autre que la sienne - alors que nombre d'entre elles ne sont devenues ce qu’elles sont grâce majoritairement à l'exploration coloniale.
            De la même manière que la forme dont nous parlons de l'espace public (ou combien nous n’en parlons pas en Belgique) a des implications dans l’établissement d’un récit colonial unilatéral, les constructions symboliques, de l'ordre du langage et de l'image, sont des piliers de l’effacement des mémoires alternatives. À travers des feuilles de protection paginale issues d'un ancien album de photographies, jaunies et décomposées, de feuilles destinées à sauvegarder la mémoire des familles européennes blanches, Daniel Cabral nous laisse entrevoir des images d'un passé que nous ne voulons pas voir, que nous nous efforçons d’oublier ou que nous voyons seulement avec un regard oblique.
            Disposées de manière hétérogène, telle que l'asymétrie du tissu urbain, des images muséologiques d'un Congo à la fois rejeté dans ses atrocités commises par Léopold II et rappelé avec nostalgie (l'expression d'anciens colons belges, "tout ça ne nous rendra pas le Congo", ironiquement transformée en titre d’émission télévisée humoristique en 2002, est révélatrice d’un certain "deuil inachevé" de la société belge  à l’égard de son ancienne colonie), entrecoupés d'extraits d'un livre scolaire de 1947, Histoire de Belgique. Exposant la hiérarchie discursive frappante, comme le souligne le philosophe algérien Jacques Derrida, l'artiste nous invite à réfléchir sur le concret du symbolique et la fragilité des mémoires alternatives.
            En ce sens, la plus grande puissance du travail de Daniel Cabral est peut-être de souligner notre responsabilité sur l’effacement symbolique d'autres mémoires, ainsi que notre possibilité de choix. En Suspension, l'artiste incarne avec force cette notion: Sur une assiete commémorative de l'époque coloniale, le pigment nous empêche de voir le motif imprimé sur la porcelaine ; pour l'obtenir, il est nécessaire d'agiter cette couche. PATRIA MEMOR est la volonté de rendre fluide ce qui s'est endurci, de donner du mouvement à ce qui se trouve inerte, de rendre translucide des mémoires opaques.

Jonatan Agra est étudiant au master en Histoire à l’ULB
et fut boursier à l’École d’Arts Visuels du Parque Lage à Rio de Janeiro, Brésil. 

Como falar sobre o silêncio?
Jonatan Agra, 2018

[PT]        Objeto de intensas disputas de memória na sociedade belga contemporânea, a colonização do Congo e a subsequente narrativa heróica construída em torno da imagem de Leopoldo II são hoje questionadas por novos atores sociais, que reivindicam a escrita de uma nova História e a afirmação de outras “memórias coloniais”. Nesta perspectiva, Daniel Cabral, jovem artista brasileiro baseado em Bruxelas há três anos, vindo também de um país colonizado durante pouco mais de três séculos por europeus – entre estes holandeses no que concerne a cidade natal do artista, Recife ou “Mauritstad”, como fora então rebatizada – empreende há dois anos uma investigação estético-política de desvendamento do espaço público bruxelês.
            PATRIA MEMOR é o resultado plástico-visual desta pesquisa, e deve até mesmo seu título em latim à inscrição sob a estátua equestre de Leopoldo II, localizada na Praça do Trono, em Bruxelas. Como falar sobre o apagamento e o silêncio? Talvez possamos dividir PATRIA MEMOR em dois núcleos significantes complementares: espaço urbano e suas narrativas, espaço simbólico e suas narrativas.
            A reapropriação cartográfica da cidade de Bruxelas, redesenhada sob o olhar do artista, nos constrange a um turismo incômodo: O tecido urbano é posto em segundo plano, fazendo emergir do silêncio quotidiano as construções de teor colonialista existentes em Bruxelas. Divididas por cores, temos num mapa no centro da exposição aquelas realizadas pelo próprio Leopoldo II, quando do período do Estado Livre do Congo sob sua tutela (vermelho), aquelas feitas após a anexação oficial do Congo à Bélgica enquanto colônia (amarelo) e, enfim, as realizadas pelo Estado belga em sua homenagem, como um herói patriótico (azul).
            Um olhar otimista sobre a consciência coletiva belga atual é igualmente questionado pela presença de guias turísticos e livros escolares de anos diversos, que discutem a história da Bélgica e a posição de Bruxelas enquanto capital da União Européia. Estas obras, dispostas para consultação do público ao lado de clássicos como Tintim no Congo, de 1931, nos convidam a refletir sobre a perpetuação de uma narrativa nostálgica, glorificadora e idealizadora do passado colonial belga, incarnada e subjacente ao espaço público de Bruxelas, arquétipo de uma Europa contemporânea que se recusa a narrar suas próprias cidades sob outra ótica que não seja a sua —quando muitas dentre elas só são o que se tornaram em grande parte graças à exploração colonial.
             Da mesma maneira que a forma como falamos sobre o espaço público (ou sobre o quanto não falamos sobre ele na Bélgica) tem implicações na construção de uma narrativa colonial unilateral, as construções simbólicas, da ordem da linguagem e da imagem, são pilares do apagamento de memórias alternativas. Através de folhas de proteção entre páginas, oriundas de um antigo álbum de fotografias, amareladas e em decomposição, folhas concebidas para salvaguardar a memória de famílias brancas europeias, Daniel Cabral nos deixa entrever imagens de um passado que não desejamos ver, que nos esforçamos para esquecer ou que vemos apenas de soslaio.
            Dispostas de maneira heterogênea, tal como a assimetria do tecido urbano, vemos imagens museológicas de um Congo ao mesmo tempo rejeitado em suas atrocidades cometidas por Leopoldo II e lembrado com nostalgia (a expressão de ex-colonos belgas, “tudo isso não nos devolverá o Congo”, tornada ironicamente título de programa televisivo humorístico em 2002, é reveladora do “luto inacabado” da sociedade belga por sua antiga colônia) são intercaladas com trechos de um livro escolar de 1947, Histoire de Belgique. Expondo a flagrante hierarquia discursiva, como aponta o filósofo franco-argelino Jacques Derrida, o artista nos convida a refletir sobre a concretude do simbólico e a fragilidade de outras memórias.
            Nesse sentido, talvez a maior potência do trabalho de Daniel Cabral seja a de pôr em evidência nossa responsabilidade sobre o apagamento simbólico de outras memórias, assim que nossa possibilidade de escolha. Em Suspension, o artista incarna de maneira contundente esta noção: Sobre um prato comemorativo da era colonial, o pigmento nos impede de ver o motivo impresso na porcelana; para obtê-lo, faz-se necessária a agitação desta camada. PATRIA MEMOR é a vontade de tornar fluido o que se endureceu, de dar movimento ao que se constata inerte, de tornar translúcidas memórias opacas.

Jonatan Agra é estudante do mestrado em História na Universidade Livre de Bruxelas e foi bolsista da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro.


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