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fitar paisagem, desviar fotográfico
Rita Vênus, 2014.

Lembro-me que tendo chegado do interior pernambucano à capital do estado, uma das primeiras estranhezas minhas foi o modo como se organizava o comércio ambulante na cidade do Recife. Da janela do ônibus, o assédio dos vendedores realmente fascinava meu olhar estrangeiro pouco acostumado à pipoca Veneza amanteigada. Lembro-me também do ar de graça com o qual fui tomado ao saber que nomeavam aqui as bancas/vendas de doce – também das famosas pipocas – fiteiros. Fiteiro? e confesso que até hoje nunca tive uma boa explicação para a etimologia da palavra. Passeio por essas lembranças no intuito de que elas me indiquem algo da suspensão acometida por mim ao me deparar com a intervenção do artista Daniel Cabral no Fiteiro Pernambuco, no último dia trinta de novembro de 2014. Durante toda a semana, esse fiteiro distribui quantidades diárias de biscoito Treloso, tanto aos moradores do Edifício Pernambuco como aos passantes da Avenida Dantas Barreto. O domingo, e também dia da intervenção no Edifício Pernambuco, é o único momento da semana no qual ele se encontra fechado. Logo, Daniel Cabral, que já havia fotografado o fiteiro em plena atividade, distribuiu sobre ele as fotografias de outrora, informando seu horário de funcionamento e avisando com brevidade que “domingo não trabalho”, deixando a série disponível àqueles que quisessem resgatar a imagem. Encontrar as fotografias do fiteiro aberto sobrepostas nele mesmo, agora fechado, revelava para mim, primeiramente, um esforço do artista em compreender a dinâmica do prédio para além da sua concretude, afinal, enquanto no mesmo domingo o local efervescia com grande parte de seus andares aberta ao público e com uma programação intensa em seu miolo, o gesto de margem de Daniel me suspendia, como disse, como dobra singela daquele espaço. Das conversas com o artista, sabia que o gesto de inserção das fotografias da paisagem urbana na própria paisagem urbana, que também ocorreu no trajeto até o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, atravessando o rio, compunha parte significante de um percurso pessoal diário do artista. Mas não é somente do deslocamento temporal, talvez nostálgico, de uma foto analógica inserida na paisagem, é do olhar que é próprio daquele que, frente às imagens do mundo, opta pelo desvio e escolhe compartilhá-lo em gesto e singularidade. Eis o trabalho do artista.
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